(seja a bicicleta, serei
também...)
Era sábado, chovia muito, ela estava ali por um único motivo: ele.
Atravessou o estacionamento sozinha, coração batendo acelerado, os
olhos checavam todos os carros a procura de uma placa: EAG 3319. Não
encontrou. Ele não estava ali. Era sábado e chovia, o relógio
ainda não marcavam oito horas, ele não tinha motivos para estar
ali. Não em um sábado, não tão cedo.
Ocorreu como estava sendo boba: a semana havia sido cansativa, ainda
podia estar dormindo, seus compromissos só começavam uma da tarde,
com um almoço de negócios. Tinha pela frente cinco horas de vazio,
o dia não ia ser bom, precisava de companhia. Subiu as escadas,
procurando um rosto conhecido que pudesse acompanhá-la nas horas que
viriam, não encontrou.
Desceu as escadas. Sentou na área de convivência. O sol foi
surgindo e em pouco tempo já estava intenso secando calmamente as
poucas poças de água que se formarão. Ela guardou o casaco e
começou a folhear um livro que encontrou esquecido em sua bolsa.
Cumprimentou algumas pessoas que chegaram. Quase não parava o olho
no livro, procurava algum sinal que ele estivesse ali. Tomou um café,
refez os planos para o dia, revisou os papéis, preparou uma ou duas
declarações, respondeu alguns e-mails, pensou em escrever algo, mas
não conseguia prender atenção em nada.
Olhou o relógio, ainda tinha 3 horas. Desistiu. Ficar ali sentada
não ajudava em nada. Levantou-se e começou a caminhar pelos
corredores vazios. No último corredor, antes da saída de
emergência, uma sala estava com a luz acesa. Apressou o passo,
conhecia o dono daquela sala. Um sorriso no rosto, duas os três
frases depois, ela conseguiu tirar “o músico”, como era chamado
pelos mais próximos, daquele cubículo e levar para um lugar
aberto. Ele seria um amigo para conversar e tocar violão pelas
próximas horas.
E enquanto elas passavam, outros colegas chegaram: o dia começava a
melhorar. Papo leve, sorrisos e música boa. O clima estava gostoso,
sentia vontade de caminhar, lembrou dele e das caminhadas curtas que
sempre faziam quando queriam abstrair as complicações do trabalho.
Sorriu e deixou o pensamento de lado. Olhou o relógio e programou o
horário de ir para a seu almoço. Restavam menos de duas horas.
Pensou em sua manhã nada produtiva, em todos os compromissos do dia
e, de olhos fechados, deixou-se esquecer de tudo enquanto o sol
batia no rosto e ouvia sem ouvir a música.
Não notou os passos que se aproximavam atraídos pelo som, mas
reconheceu o perfume característico que o vento trouxe. Era ele! Ela
abriu os olhos devagar e um cumprimento mudo foi feito, ele sentou ao
seu lado e nada foi dito durante duas ou três musicas, quando “o
músico” avisou que teria que voltar ao trabalho. Todos se foram e
ele a convidou para a tradicional caminhada.
Ela estava com ele. Os olhos falavam tudo que não era dito, olhares
iam muito mais longe do que a conversa superficial sobre o dia, o
trabalho... Mas era tudo que ela precisava. Um bipe estralou no ar e
ela se despediu, aguentaria o dia. Acordar cedo tinha valido a pena,
só por um minuto com ele. Ela sorriu boba enquanto se dirigia ao
local do almoço. Ele fazia ela sentir-se tão diferente que ela
ainda não sabia se era bom ou ruim.
O dia seguiu o curso normal, sem muitos problemas. Ela estava feliz,
apesar de não ter recebido nenhum sinal de vida dele durante todo
resto do dia. No fim do dia, ele a esperava no estacionamento com um
sorriso lindo e os olhos enigmáticos. A abraçou e explicou que
tinha uma surpresa. Depois de alguns minutos estavam ela e ele ao
lado de uma mesa de jantar pronta em um ponto alto da cidade, as
luzes faziam o cenário ficar quase surreal. Ele sorria satisfeito e
ela perguntou:
- Um jantar, para mim ?
- Não, boba, não é pra você. É pra gente.
- Um jantar, para mim ?
- Não, boba, não é pra você. É pra gente.
“... As pequenas coisas que valem mais.
Era tão bom estarmos juntos e tão simples.
Um dia perfeito ...”
Texto PERFEITO! Parabéns Stephanne!
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