segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mas, se houvessem intimidades...



Se houvesse intimidade o bastante, haveria, também, perguntas do porquê da cara de ciúme, do porquê da cara de decepção, do porquê desse humor tão instável, do porquê de tanta necessidade. Se houvesse intimidade haveria a tentativa de entendimento. Haveria conversas sobre o pôr do sol, poesia, lendas e fotos. Haveria a curiosidade a cerca de tudo e haveria muita coisa em comum.
Se houvesse intimidade haveria troca de SMSs, ligações de madrugadas e não faltariam convites pra jantar, caminhar, dançar ou beber vodka. Se houvesse intimidade seria permitido apego, haveria conhecimento do desejo e as mãos se encaixariam.
Se houvesse intimidade não haveria pressão, nem obrigações. Sem status no Facebook haveria relacionamento, mesmo que um assim bem de mentirinha, mas cheio de sinceridades sem mentiras sobre exclusividade e quando estivéssemos juntos seríamos corpo e alma um do outro, como se não houvesse mais ninguém. Se houvesse intimidade e apego e um relacionamento de mentirinha haveria, também, ligações pra aparecer do nada, mas só se você também aparecesse quando eu tivesse vontade de você durante a madrugada fria.
Se houvessem intimidades certamente seria diferente, mas foi acidente de percurso, impulso do momento, culpa toda do ambiente que era propício. E, na realidade, de você não sei nem o nome completo, o único sms mandando não foi respondido e a ligação do dia seguinte não aconteceu por falta de intimidade.
Não há intimidade, mas se houvesse seria diferente. Seria divertido e seria bom de ter perto, mas não há intimidade, não há relacionamento, não há ligações de boa noite. O que existe é só o olhar que contra a ordem me olha e diz tudo que não foi dito e confessa e pede enquanto meus olhos brincam: horas correspondem, horas te olham, horas te esnobam.
Daqui é tudo muito divertido: um jogo perigoso que não será jogado. Queda de braço pra ver quem cede primeiro, disputa infantil sobre não ligar, não convidar e se não houvesse o olhar que me chupa como um zoom, que muitas vezes me faz perder a pose e sorrir feliz e outras tantas vezes me faz te olhar de voltar só pra te tentar, se não houvesse o olhar não haveria esse texto. Mas se houvesse intimidade, não haveria jogo por ser perigoso demais.
Se houvesse intimidade e apego seria diferente, haveriam textos, declarações e confusões. Seria necessário abstrações. Mas não há intimidade. Não há apego e, o mais importante, não há informações. Só existe o jeito de olhar, o jeito de falar e aquelas malditas mãos quentes junto com aquele perfume insuportável e o toque que em voltas volta a minha cabeça, então existe jogo! E uma enorme curiosidade de saber até onde vai, até onde é divertido, mas as regras são claras, por não haver intimidade, não pode haver conversas, não pode permitir apego.
Por não haver intimidades existe segurança e permissão a continuar com esse jogo que não existe. Imaginando esses olhares cheios de significado, sonhado em poder sentir mais uma vez o toque e fazendo de tudo pra jamais acontecer. Por não haver informações pode se imaginar que existe o jogo, imaginar como seria se houvesse intimidade.
          E, por fim, agradecer por não haver intimidade, por não haver apego, por não haver ligações, por não haver possibilidade de cativação. Por não haver intimidade pode-se ficar e escrever e falar que se houvesse intimidade haveria sensação de bem estar, teria a certeza que ali é o lugar certo e ali seria o lugar que mais se deseja estar por haver devoluções, mas se houvessem intimidades haveria fuga e seria oficialmente complicado.