Tem gente que escreve para marcar inícios. Eu gosto mesmo dos fins,
mesmo quando eles não são tão bons assim. Os fins significam que uma história
existiu, significa que tenho algo a lembrar, uma boa história para contar...
Ela não gostava
dele e não iria gostar. Isso ficou bem claro nos primeiros encontros e era
incontestável. Quem conhecia sabia que nem no cenário mais louco existiria a
mais remota chance de envolvimento, sabia, também, que esse seria o principal
motivo para o envolvimento acontecer. Duas crianças mimadas buscando o impossível.
Tudo
começou pela curiosidade dela, que não acreditava no jeito de bom moço dele,
ela precisava saber quem era ele de verdade. Acredito que ele percebeu isso
rápido e fez disso uma estratégia para conquistá-la. Ela passou a analisá-lo
constantemente, prestava atenção nos olhares, no perfume, no toque... percebeu
que ele seguia o padrão de todos os outros. Apareceu nessa impossibilidade junto
com o perigo eminente. Logo para ela, que almeja o impossível. Para completar a fórmula, existiam as
mudanças: do humor à rubrica. Mudanças que surge em caos, sem justificativa.
Logo pra ela que acha razões, lógicas e sentidos até onde não tem.
Ele era
perfeito e nem sabia disso. Desfez a igualdade de forma tão sutil: só depois
que já havia preocupação e apego ela percebeu que suas implicações faziam bem.
Percebeu que ele desfazia o vazio e resolveu deixasse levar por saber que seria
platônico, nunca haveria intimidade. O vazio foi acabando e ela ficava surpresa
por ele sempre agir como deve para ganhar sua atenção, enfim ela estava no seu jogo. Jogo de insinuações e provocações, sem objetivo definido, apesar de
declarados com toda educação.
Depois de
um tempo ela reparou que ele sempre vinha a sua cabeça durante as viagens que
faziam parte da sua rotina e era ali que ela permitia pensar nele horas a fio.
Achava graça por estar desenvolvendo cenários, ficava feliz por saber que esses
jamais iriam acontecer. Como seria complicado se acontecem. Era divertindo encontrá-lo ocasionalmente e
vê-lo provocando-a. Era divertindo lembrar-se das cenas e dos diálogos que
foram ficando mais frequentes. Ela se divertia e se deliciava com esse jogo de
perigo. Eles não repararam no que estava para acontecer.
Numa
sexta-feira, depois de uma semana complicada, ele a ligou, surgiu uma proposta
de um encontro naquele momento. A semana havia sido complicada, ela merecia se
divertir um pouco. Desenhou-se a historia. Provocações, implicações, conversas,
birras e beijos, essa foi a sequência de uma noite que nunca deveria se
repetir. Eles não podiam estar ali.
Distância
segura foi necessária para esquecer. O sol voltou a brilhar e tudo voltou ao
normal. Ela ocupou-se de coisas mais simples e por isso, facilmente,
perecíveis. E como dizem: “o tempo
passou, é claro que passaria como passam as vontades e voltam outro dia.”
Mais de um mês depois, quando os cenários já haviam sido esquecidos, tudo
começou de novo, dessa vez o jogo não durou muito tempo: um olhar, um diálogo,
uma semana e dois encontros.
Depois
disso, havia acabando, ele sabia disso, mas ela simplesmente não aceitava, não
por ter se apaixonado ou por ele já ser importante demais. Ela não permitiu o apego. Não saiu em nenhum momento do seu limite de segurança. Ele era
apenas um jeito divertindo de fugir das semanas complicadas. Eram dias de
complicações e por isso, apenas por isso, ela tentava encontrar de novo aqueles
olhos, olhos ridiculamente castanhos. Mas, enfim, percebeu que junto com Setembro
a história, que é mais ficção que realidade, terminou. Restam algumas paginas
escritas sobre esse ser tão inconstante, que não será desvendado.
Eles se conheceram, se paqueraram, se tocaram, se beijaram e quando
estavam prestes a começar um romance para os dias complicados, acabaram. Uma
historia de muitos diálogos e poucos encontros. Durou mais do que qualquer um
apostaria. Deixou mais marcas do que poderia se prever, mas ela conta que foi
extremante intenso e divertindo. Deixou uma boa história para contar, e acabou
com uma ligação, um e-mail, um sms, um texto e Setembro.